Durante boa parte da minha vida não cogitei a possibilidade de ser pai. Mas a vida me deu de presente esse privilégio há pouco mais de quatro meses. Quando minha esposa ficou sabendo da gravidez ficou desesperada, embora ela tivesse esse sonho há muito tempo. Esse foi o meu primeiro indicativo de quão impactante é a maternidade para uma mulher. Percebi que, por mais que a maternidade fosse um desejo de minha esposa, quando se tornou uma possibilidade real, muitas preocupações e inseguranças surgiram.
As primeiras semanas foram de enjoo e tristeza. Isso me deixou muito confuso. “Será que eu fiz alguma coisa de errado, para ela está tão triste?” Eu pensava isso em muitos momentos. Isso me incomodou profundamente. Eu, que não queria ser pai, de repente fui invadido por uma alegria tão inexplicável. Fiquei surpreso ao perceber que minha alegria estava em contraste com a tristeza dela. Inicialmente, não consegui entender o que estava acontecendo. Fiquei irritado com a reação dela, tão inesperada.
Após refletir sobre essa situação inicial, procurei entender os motivos pelos quais minha esposa estava tão aflita. Conversamos sobre o que ela estava sentindo. E procuramos entender os medos e angústias que ela estava sentindo. Preocupação com o peso, medo da reação da família, medo da perda de produtividade no trabalho entre outras preocupações. O início da gravidez foi de muito conflito interno para ela. A gravidez não trouxe a alegria esperada e isso a deixou muito aflita. Ela acreditava que esse momento fosse trazer muita alegria, afinal, era isso que ela via quando alguma conhecida revelava que estava grávida.
Ela começou um processo de aceitação dessa nova condição como mulher. Seus inúmeros papeis sociais: esposa, filha, irmã, amiga e professora, sofreriam uma alteração drástica. Nada a partir daquele momento poderia retornar a ser como antes. Foi aí que entendi o motivo de sua tristeza; eu, no meu egoísmo, não percebi inicialmente todos esses impactos.
Durante a gravidez, já conformada e feliz com a novidade que estava chegando, outras preocupações foram surgindo. E novas angústias vieram à tona. O parto normal era um desejo, e então ela procurou todo tipo de informação sobre o assunto. Estava convicta de que essa era a melhor forma de nossa filha chegar a esse mundo. Isso se tornou uma convicção inabalável. Livros, videos, grupos no WhatsApp, a escolha da médica, a escolha da dola, tudo voltado para essa convicção.
Finalmente o grande dia estava próximo. O medo e a ansiedade aumentavam a cada semana que se aproximava do grande dia. Estamos sentados, tomando café em uma sorveteria quando nossa filha deu o primeiro sinal de sua chegada. Uma dor que eu não poderia descrever, fez com que ela chutasse a mesa tão forte, a ponto de derrubar tudo que estava em cima.
Tentamos manter a calma, ligamos para a dola, que nos tranquilizou “são só contrações de treinamento”. As horas passaram e essas “contrações de treinamento” só aumentavam de frequência. Decidimos ir dormir, apagamos as luzes e, de repente, um grito. Acendi as luzes apressadamente, foi aterrorizante para mim, eu não sabia o que fazer. Liguei para a dola na esperança de que me dissesse que estaria a caminho e viria nos ajudar. Mas o que ouvi foi: “Vá agora para o hospital!”
Peguei as malas que já estavam prontas, entramos no elevador, as dores só aumentavam. Procurei manter a calma. Entramos no carro, era pouco mais de uma da madrugada. Avancei todos os sinais vermelhos, com muito cuidado e agilidade. Chegamos ao hospital. Ao ser examinada, ainda não estava na dilatação para o parto normal. Foi o início de uma longa noite.
Minha esposa lutou com todas as forças, desde a meia noite até às oito da manhã do dia seguinte. Depois de muita luta, o parto normal teve que ser substituído por uma cesárea. E foi dessa forma que nossa filha veio ao mundo. Eu não seria capaz de descrever o quanto minha esposa foi forte no decorrer dessa noite. Eu não suportaria metade do que ela suportou. Nossa filha nasceu saudável, e no dia seguinte fomos para casa.
Esse foi o início de minha jornada como pai. A cada dia que passa sinto o amor crescer, vejo o amor crescer. Ser pai tem sido uma das maiores conquistas da minha vida. Em outros posts vou falar da minha experiencia nessa jornada. O próximo falarei do puerpério. Muitos pais e familiares não conhecem os efeitos desse período na saúde da mulher. Até breve!